Candidato assassinado no Equador já havia sofrido atentado em setembro; conheça Fernando Villavicencio

O político se apresentava aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan 'É hora dos corajosos'. Facção criminosa Los Lobos assumiu autoria do atentado

Por Emanuelle Bordallo — Quito
O Globo

Villavicencio aparecia em quinto lugar nas pesquisas entre os candidatos à sucessão de Guillermo Lasso Foto: ERNESTO BENAVIDES / AFP

O jornalista e candidato presidencial equatoriano Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi assassinado na noite desta quarta-feira durante um comício eleitoral na capital Quito. Villavicencio, que aparecia em quinto lugar nas pesquisas entre os candidatos à sucessão de Guillermo Lasso, apresentava-se aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan "É hora dos corajosos".

Um suspeito do crime foi morto em troca de tiros com a polícia. Outras seis pessoas já foram detidas, em ações supervisionadas pelo Ministério Público. A facção criminosa Los Lobos reivindicou a autoria do atentado, em áudio divulgado nas redes sociais (leia as informações completas). 

Ele foi o primeiro a anunciar este ano sua intenção de participar como candidato presidencial nas eleições do próximo dia 20 de agosto. Em maio, sua chapa com a ambientalista Andrea González foi anunciada pelo partido Movimento Construye.

Uma de suas principais propostas de governo foi a aplicação do Plano Nacional Antiterrorista, que começou identificando as estruturas mais perigosas que operam no Equador: narcotráfico, mineração ilegal, corrupção e propina, ligadas entre si e à política de combate a elas.

Esta, contudo, não foi a primeira vez que o candidato foi atacado. Na madrugada do dia 3 de setembro de 2022, Villavicencio foi vítima de um atentado, quando balas atingiram sua casa. Sua esposa foi quem ouviu os disparos e pediu ajuda à polícia de Quito.

— Villavicencio era um jornalista e político muito polêmico, conhecido pelos seus trabalhos de jornalismo de investigação. Denunciou diversos casos de corrupção durante o governo de Rafael Correa e, nos últimos tempos, realizou diversas denúncias contra políticos e grupos do crime organizado que atuam no país — explica Maria Villarreal, professora de Ciência Política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Para Villarreal, o candidato tinha muitos inimigos. Embora tenha aparecido em 5º lugar em uma pesquisa feita pelo jornal El Universo na semana passada, já havia aparecido em segundo e em quarto lugar "e tinha chances de ganhar as eleições em um possível segundo turno, mesmo não sendo o favorito", segundo a professora.

Villavicencio já vinha sendo ameaçado por diversos membros do crime organizado, em especial o grupo "Los Choneros". A professora de Ciência Política alerta, porém para a instrumentalização da tragédia para a política equatoriana. De acordo com Villarreal, a suspensão das eleições, marcadas para daqui 20 dias, e a implementação de um estado de exceção seria do interesse de atores antidemocráticos do país.

— Trata-se a todas luzes de uma morte com intencionalidade política, que beneficia aqueles candidatos que pregam o modelo Bukele [presidente de El Salvador] — afirma.

Trajetória

Natural de Sevilha, no cantão (estado) de Alausí, Villavicencio viveu uma vida pobre em Quito, para onde foi com a família aos 13 anos. Mais velho de seis irmãos, ele disse em entrevista ao El Universo que trabalhava durante o dia como garçom e estudava à noite.

Villavivencio se definia como um apaixonado por literatura, chegando a ler 17 livros sobre a história de Simón Bolívar para participar de um concurso de oratório interescolar.

Deputado na Assembleia Nacional, presidiu a Comissão de Supervisão da Assembleia entre 2021 e 2023. Na legislatura, ele teve vários confrontos com grupos de oposição e com o governo. Denunciou o caso chamado León de Troya, investigação ligada à máfia albanesa com o cunhado do presidente Guillermo Lasso, Danilo Carrera.

Apesar disso, durante seu período como presidente da Comissão de Auditoria da Assembleia foi questionado por vários partidos políticos que o acusaram de ser um "defensor" do atual governo.

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