Lula cutuca BC e AMER3 dá adeus ao Ibovespa, que fecha em alta de 0,62% puxado por petróleo

MERCADO FINANCEIRO

Apesar de o presidente ter chamado a independência do Banco Central de "bobagem", as cotações do petróleo e do minério deram um gás em seus setores e remaram a B3 contra a maré do dia – em Nova York, os índices fecharam em baixa.

Por Bruno Vaiano e Alexandre Versignassi
Revista VC S/A


Mais um dia normal deste janeiro: Americanas em leilão após uma queda brutal e a equipe de Lula correndo para acalmar a Faria Lima depois de o presidente desferir um cutucão nos investidores. De tão rotineiros, nenhum dos acontecimentos – nem com um empurrãozinho dos índices de Nova York, que fecharam em baixa – conseguiu destruir o bom-humor desta quinta: o índice-mor da B3 fechou em ligeira alta de 0,62%.

Vamos como Jack, por partes.

AMER3 na sarjeta dos tickers

Hoje de manhã, às vésperas de pedir recuperação judicial, a varejista tinha apenas R$ 800 milhões em caixa – um furo do Valor confirmado pelo novo CEO da empresa, João Guerra.

Ruim, mas no fundo desse poço, sempre tem um alçapão: eles chegaram ao final do dia com só R$ 250 milhões na registradora. Aconteceu que Safra, Bradesco e Itaú seguiram os passos do BTG e do Banco Votorantim, e bloquearam a grana que a Americanas ainda guardava em seus cofres.

Com isso, o caixa da companhia conseguiu cair mais rápido (-68%) que as ações. Elas desabaram 42%, a R$ 1,00 – a um centavo de virar penny stock de vez. No momento, operar vendido com AMER3 parece ser um investimento mais seguro do que a poupança (rs).

Falando nisso, diga adeus ao ticker AMER3 aqui no Maiores Altas e Baixas. Ele vai ficar escondido na gaveta: com o escândalo, a B3 informou que vai tirá-lo do cálculo de todos os índices, inclusive o Ibovespa – e nós, como o grosso do noticiário, só damos as maiores altas e baixas do Ibov mesmo, não da bolsa inteira. A decisão valerá a partir de amanhã (20).

Calcula-se que esta será a quarta maior recuperação judicial da história do país, atrás apenas de Odebrecht, Oi e Samarco – que deviam, respectivamente, R$ 80 bi, R$ 65 bi e R$ 55 bi quando pediram penico à Justiça. A da Americanas, você sabe, é de R$ 43 bi.

Enquanto isso, no Planalto

Lula reclamou da diferença entre a inflação (que fechou o ano em 5,79%) e a Selic, que permanece em 13,75%. Isso põe o juro real em 8%, um dos mais altos do mundo. O comentário rolou duas vezes: primeiro, durante uma entrevista à jornalista Natuza Nery na Globonews, quarta (18) à noite, após o fim do pregão. Depois, em Brasília, em um encontro com reitores de universidades federais realizado na manhã de hoje (19).

Durante a entrevista, a frase que virou notícia foi: "Duvido que esse BC seja mais independente do que foi o Meirelles". Tomando a fala em seu contexto original, Lula quis dizer que o fato de Meirelles ter sido nomeado pela Presidência da República – o que não ocorre mais desde 2021, com a sanção da lei que garante a independência do BC – não fez diferença para a qualidade ou a idoneidade do trabalho realizado por ele.

Até aí, tudo bem. O problema é que Lula também chamou a independência do BC de "bobagem" – o que obviamente não é. Ótimo que seu primeiro governo tenha tido o bom-senso de não interferir no trabalho de Meirelles, mas é essencial que a lei exista para os casos em que o governo queira interferir. Por essas que países sérios em geral têm bancos centrais independentes. De resto, Lula irá indicar seu presidente do BC em 2024 – e quem vencer em 2026 terá de engoli-lo. É o jogo.

Além da polêmica com a independência do Banco Central, Lula reclamou com Natuza Nery da meta de inflação em 3,25% para 2023 – 4,5%, em sua opinião, seria um alvo mais realista.

Hoje, Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, correu para apagar o incêndio no Twitter. Lembrou que Lula sempre respeitou a autonomia do Banco Central – e que não tem razão para mudar de postura agora. "O governo sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do BC são de extrema importância. E, também por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar sendo a ordem dessa gestão."

Viscoso, mas gostoso

O petróleo está em um cabo de guerra entre China e Estados Unidos. De um lado, a Agência Internacional de Energia (AIE) diz que o reaquecimento da economia chinesa com o fim da política Covid zero vai aumentar a demanda por combustíveis, o que aumenta o preço do barril. Na outra ponta, os estoques de petróleo nos EUA aumentaram brutalmente esta semana: 8,4 milhões de barris, ante a previsão de 1,1 milhão. É um sintoma da recessão que se avizinha em 2023, com potencial para derrubar o preço do Brent.

Hoje, o lado China do "debate" ganhou: alta de 1,39%, a 86,16% por barril. Esse número puxou consigo as ações do bloco carioca Unidos do Ouro Negro: PETR4 fechou subindo 3,03% e PRIO3 encerrou o dia em 3,98%. Vale dizer que o barril também caiu por causa do dólar, que desvalorizou em relação à maioria das outras moedas (uma grande exceção foi o real, que tropeçou com as declarações de Lula: por aqui, as verdinhas americanas fecharam em alta de 0,16%, a R$ 5,17. A máxima, antes do tuíte-extintor-de-incêndio de Padilha, havia sido R$ 5,25).

Adicione a isso a alta de 1,55% no preço do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China, que deu o ânimo já costumeiro aos papéis de mineradoras e siderúrgicas, e temos um Ibovespa verdinho, inspirado pelas participações gigantescas de Vale (16%) e Petrobras (10,7%) na carteira do índice que se despede das Americanas. 

Hasta la vista.

Maiores altas
Magazine Luiza (MGLU3): 7,02%
Rede D'Or (RDOR3): 6,19%
CCR (CCRO3): 5,18%
Prio (PRIO3): 3,98%
Hapvida (HAPV3): 3,80%

Maiores baixas
Americanas (AMER3): - 42,53%
Braskem (BRKM5): -2,79%
BTG Pactual (BPAC11): -2,74%
BRF (BRFS3): -2,65%
Cielo (CIEL3): -2,61%

Ibovespa: 0,62%, aos 112.921 pontos

Em NY:
S&P 500: 0,76%, aos 3.898 pontos
Nasdaq: -0,96%, aos 10.852 pontos
Dow Jones: 0,76%, aos 33.044 pontos

Dólar: 0,16%, a R$ 5,17

Petróleo
Brent: 1,39%, a US$ 86,16%
WTI: 1,02%, a US$ 80,61%

Minério de ferro: 1,55%, a US$ 125,68 a tonelada na bolsa de Dalian

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