Corinthians, Brasil e a esperança de Andar de novo: o sentido da abertura da Copa, segundo um jovem paraplégico

Vizinho do terreno da arena por 30 anos, Fernando Stefanelli teve três fortes razões para estar no estádio da região de Itaquera na partida inaugural do Mundial
 
 
O terreno onde hoje está a Arena Corinthians, em São Paulo, é um velho conhecido de Fernando Stefanelli. Era o local favorito para brincadeiras quando era criança, praticamente no quintal de casa, já que a família morava em um conjunto habitacional vizinho. Mas um acidente de moto há cinco anos mudou os planos de vida, quando ele tinha 30 anos. Fernando ficou paraplégico e teve que se mudar do local para uma casa mais adaptada. E foi longe de Itaquera que ele descobriu algo muito especial: do terreno da infância nasceria o estádio do time do coração. E sediaria o jogo de estreia do Brasil na Copa.

“Quando eu fiquei sabendo que o estádio do Corinthians ia ser construído lá, eu não acreditei. Eu sou muito corinthiano, muito apaixonado. E depois soube que seria o estádio da abertura, com o Brasil em campo. Prometi para mim mesmo que eu daria um jeito de estar lá”, contou.

 
 
Ele fez o pedido já na primeira fase de vendas de ingressos, ainda em agosto. Quando o resultado saiu, em outubro, foi o primeiro momento de felicidade. O que ele não imaginava é que, além da abertura do maior torneio de futebol do mundo, ele estava garantindo presença em um momento histórico para a ciência, com capacidade para mudar seu próprio futuro.

Fernando se encantou com o estádio, tirou fotos, chegou ao seu setor sem problema algum de acessibilidade. A partir de então, foi só esperar pouco mais de uma hora para uma demonstação que foi bem mais rápida e bem mais discreta do que Fernando imaginava. Mas aconteceu. E automaticamente acendeu as esperanças de, um dia, voltar a Andar de Novo, como diz o nome do projeto: na beira do campo da Arena Corinthians, Juliano Pinto, de 29 anos, jovem com paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores, vestido com um exoesqueleto comandado por seu pensamento, deu o chute inaugural simbólico da Copa.

É o resultado de anos de trabalho científico, envolvendo pesquisadores e técnicos do mundo todo, liderados pelo brasileiro Miguel Nicolelis. E a prova de que aquilo que Fernando mais deseja pode, de fato, acontecer. “Se o que preciso é ter comando do pensamento, isso é fácil. Eu faço isso sempre, fico jogando comandos para a minha cabeça, penso que eu estou andando, correndo, dançando, escalando, tudo que eu fazia antes e quero fazer de novo", contou.

A mãe, Izilda, só de pensar na possibilidade, se emociona. “Eu sou capaz de fazer qualquer coisa para que o meu filho possa voltar a andar. É meu maior sonho. Vou para a internet, vou pesquisar, vou acompanhar os próximos passos do projeto. Eu acredito e nunca perdi as esperanças”, disse.
Projeto

Assim como Juliano, outros sete pacientes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) participaram de vários testes clínicos até se acostumarem a usar o exoesqueleto. “Foi um grande trabalho de equipe e destaco, especialmente, os oito pacientes, que se dedicaram intensamente para este dia. Coube a Juliano usar o exoesqueleto, mas o chute foi de todos. Foi um grande gol dessas pessoas e da nossa ciência”, celebrou Nicolelis, coordenador científico do projeto.

O gesto realizado na Arena Corinthians, nesta quinta-feira (12.06), durante a cerimônia de abertura da Copa, foi uma demonstração do projeto para o público em geral. A primeira etapa do Andar de Novo foi concluída em maio e os resultados serão publicados em revistas científicas nos próximos meses.

“Acreditar que tem jeito, que há esperança, me faz muito feliz. É bom saber que tem gente como esses cientistas querendo fazer coisa boa pra gente”, disse Fernando.
 
Carol Delmazo – Portal da Copa

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