Aos 58 anos, senador Major Olímpio morre após 16 dias internado com covid-19

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Major Olímpio no Senado

AGÊNCIA BRASIL/Major Olímpio teve morte cerebral após 16 dias internado.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) teve morte cerebral na tarde desta quinta-feira (18), em São Paulo, após passar 16 dias internado com covid-19. No próximo sábado, ele completaria 59 anos.

Olímpio estava internado desde o dia 2 de março no Hospital São Camilo. A informação da morte cerebral foi confirmada na conta oficial do Twitter do político.

"Com muita dor no coração, comunicamos a morte cerebral do grande pai, irmão e amigo, Senador Major Olímpio. Por lei a família terá que aguardar 12 horas para confirmação do óbito e está verificando quais órgãos serão doados. Obrigado por tudo que fez por nós, pelo nosso Brasil.", disse a nota na rede social.

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De acordo com a jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, Olímpio participou de um protesto com aglomeração contra o lockdown em Bauru (interior de SP) duas semanas antes de ser internado com covid-19. Durante o ato, ele inclusive tirou fotos abraçado com apoiadores.

Major Olímpio teve uma carreira de 29 anos na Polícia Militar de São Paulo, que virou sua base eleitoral quando ele entrou na política, em 2006, como deputado estadual.

O ministro do STF Alexandre de Moraes disse que Major Olímpio era combativo e "honrado policial militar em São Paulo".

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Ferrenho opositor da gestão tucana paulista, a quem acusava de maquiar dados de segurança pública e atuar contra os interesses da corporação, Olímpio se celebrizou pelo hábito de seguir o então governador Geraldo Alckmin em várias agendas públicas pelo estado de São Paulo.

Com um megafone em punho, ele tentava interromper qualquer discurso de Alckmin com palavras de ordem em favor de melhores salários e condições para trabalho de policiais.

Em 2017, quando Olímpio já era deputado federal, ele conseguiu tirar o então pré-candidato à presidência pelo PSDB do prumo ao cobrar aumento aos policiais em um evento em São Carlos.

Alckmin se exaltou: "Alguém aqui ganha R$ 50 mil do povo de São Paulo? É ele que está gritando. Ele ganha R$ 50 mil, devia ter vergonha, vergonha de vir aqui, R$ 50 mil do povo de São Paulo. Tenha vergonha, deputado. Não pode olhar no rosto dos brasileiros de São Paulo, R$ 50 mil por mês. Vergonha!", em referência ao acúmulo do salário como deputado e da aposentadoria como policial que Olímpio recebia.

No ano seguinte, em 2018, Olímpio atuaria como um dos coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro em São Paulo, em uma simbiose que primeiro aumentou a presença de Bolsonaro em terras paulistas e depois garantiu a Olímpio votos suficientes para se tornar senador pelo Estado, desbancando o petista e ex-senador Eduardo Suplicy.

Sua maior comemoração, no entanto, foi ter ajudado a reduzir drasticamente a performance do tucano Alckmin, que sequer chegou ao segundo turno e terminou o pleito fora da política.

Na Câmara, sua atuação era correntemente descrita por colegas como lobby em favor de fabricantes de armas e de empresas de segurança privada. Até a chegada de Bolsonaro ao poder, ele era considerado um parlamentar de baixo clero e pouca influência sobre os rumos do poder.

O ex-presidente Michel Temer lamentou a morte de Major Olímpio e disse que o senador "colaborou muito comigo nas duas vezes que ocupei a Secretaria da Segurança Pública."

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Com Bolsonaro, poderia sonhar com posição de mais destaque. Mas as expectativas de Olímpio com Bolsonaro, de quem era aguerrido defensor, não se cumpriram. Com um pauta conservadora e anticorrupção, o senador era crítico a aproximações do governo com o Centrão.

O ápice do rompimento, no entanto, foi seu apoio à CPI da Lava Toga, cujo objetivo era investigar o comportamento de ministros dos tribunais superiores brasileiros. Olímpio foi a favor da CPI e acusou Bolsonaro de ser contrário por não querer melindrar interesses dos magistrados que poderiam vir a julgar seu filho, Flávio Bolsonaro, então sob investigação no caso das rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio.

Atacado por policiais bolsonaristas, em maio de 2020, ele anunciou em áudio de WhatsApp que não concorreria a mais nenhum cargo e atacou o presidente: "Eu não gosto de ladrão. Para mim, ladrão de esquerda é ladrão. De direita, é ladrão. Se for filho do presidente ladrão roubando junto com o presidente, eu vou dizer".

Major Olímpio visto através do visor de um celular enquanto assessora o filma

CRÉDITO,

SENADO FEDERAL

Legenda da foto,

Major Olímpio participou de ato contra lockdown duas semanas antes de ser internado com covid

Apesar das discordâncias com Bolsonaro, Major Olímpio também adotou o estilo negacionista do governo federal em relação a covid-19. Semanas antes de ser internado e intubado, participou de uma manifestação em Bauru, interior paulista, contra o fechamento obrigatório do comércio pelo poder local, que tentava controlar a escalada da pandemia. E seu gabinete, além dele, outros quatro assessores contraíram a doença ao mesmo tempo. Seu assessor de imprensa também está em estado grave.

E apesar de ter como temas assuntos de violência, armamento e segurança pública, Olímpio não tinha estilo truculento e costumava salpicar a conversa com seus interlocutores com piadas e ditados populares. Certa vez, em 2018, perguntado pela reportagem da BBC News Brasil se estava preocupado com um tema da campanha naquele momento, ele respondeu divertido: "Que nada, eu sou que nem chuveiro elétrico velho: estou ligado, mas não esquento".

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