Retalhos memoráveis do São João da Moda

Por Magali Oliveira


De tanto ouvir falar das casinhas da cidade cenográfica do São João da Moda, eu resolvi conhecer de perto esse lugar e seus moradores. À primeira vista uma chuva de lembranças invadiu a minha cabeça e comecei a reviver alguns momentos de minha vida. A começar pelo Armazém de compadre Zé, o centro das notícias e principal ponto de encontro dos contemporâneos da minha época, lá encontrávamos tudo que procurávamos e ainda podíamos comer um saboroso pão doce com 'Cajuína' ou tomar aquela bicada para esquentar o sangue. 


Em seguida, entrei numa casa denominada Ação Social. Matutei com as minhas lembranças de quem era aquela casa, mas ao juntar as letrinhas percebi que se tratava de um trabalho de conscientização sobre o Enfrentamento ao Trabalho Infantil. Então compreendi que algumas crianças não estão tendo tempo para correr de atrás do pneu, jogar bola de gude no terreiro de casa ou subir nas árvores. Depois de deixar minha assinatura na folha de papel de pão, saí daquela casa convicto do quanto aquele trabalho era importante para as crianças de hoje.


Como a minha visita aconteceu no final da tarde de sábado (30), encontrei o Fórum fechado. No entanto, vi que os traços da construção eram semelhantes aos da minha época, a única diferença é que hoje as cores estão mais vivas, a rua está pavimentada... Ao sair do Fórum encontrei Toinho da Onça sentando na frente de sua casa, desfrutando da sombra e da brisa suave de nossa Rua Grande. Ele me disse que aquela casa, tida como dos Homenageados, era uma honraria que ele e meu saudoso amigo Milonga haviam recebido do atual prefeito da cidade. No interior da casa, sentando num tamborete eu relembrei alguns ‘causos’ e ouvi um forró ‘arretado’ de bom que tava tocando no rádio de Milonga.


Mas logo nossa prosa foi interrompida, pois a ‘fia donzela’ de cumadre Tereza saiu do 'caritó' com o ‘fio de Sebastão’ e a ‘famia’ com medo de perder o casório, tratou logo de levá-la até os pés de padre Gusmão pedir as bênçãos do Senhor Bom Jesus dos Aflitos e São João Batista. A euforia em torno do casamento era tamanha que logo a rua encheu de curiosos que queriam ver o vestido da noiva, já outras debruçadas nas janelas acompanhavam toda a movimentação da rua. Vizinho da igreja tinha a Casa dos Artistas, lá eu encontrei grandes nomes do forró, do teatro, cordelistas, aboiadores, artistas plásticos... gente que tinha deixado seu legado para a cultura local.


Devido o entardecer das horas e a grande fila que se formou em torno da Casa de Adivinhações, onde o adivinho atendia as pessoas que buscavam ver o futuro ou simplesmente ouvir palavras de ânimo, eu apenas passei pela frente cumprimentando os conhecidos e segui meu caminho. Na casa encostada tinha umas mulheres costurando retalhos de tecidos, outras confeccionando vestidos e outras produzindo as mais variadas peças de vestuário numa tiragem impressionante. Então, eu compreendi que naquela casa o tempo estava passando na velocidade de um abrir e fechar de olhos. 


Minha última parada foi na Prefeitura Municipal, onde uma exposição de retratos mostrava o quanto nossa cidade havia crescido, naquele momento, eu, a Santa Cruz dos anos 50, encontrei-me finalmente com a Santa Cruz atual repleta de inúmeras ruas pavimentadas, de escolas requalificadas, de casas populares sendo construídas, de programas sociais que trazem dignidade e respeito ao povo... Enfim, envoltos pela emoção do reencontro, nós continuamos sendo, cada qual a seu tempo, a Santa Cruz do Capibaribe que dá a todos “o direito de crescer e progredir”.

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