Nunes se anima com ideia de virar governador e incomoda Tarcísio, maior cabo eleitoral do prefeito

Movimentação é considerada prematura e contradiz discurso público do governador, que defende que tentará a reeleição em 2026; procurado, Tarcísio de Freitas não comentou; Ricardo Nunes disse que pessoas desinformadas ou maldosas querem plantar uma discórdia inexistente

Tarcísio foi principal cabo eleitoral de Nunes na eleição municipal do ano passado
 Foto: Werther Santana/Estadão

Estadão

As movimentações do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para disputar o governo paulista no próximo ano têm gerado desconforto no governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nos bastidores, aliados de Tarcísio afirmam que ele considera a atitude de Nunes prematura e contrária à estratégia do grupo, que tem defendido publicamente a candidatura ao Palácio do Planalto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente inelegível.

Tarcísio foi o principal cabo eleitoral na reeleição de Nunes e arriscou seu próprio capital político em uma campanha apertada no primeiro turno. Parte do incômodo está na avaliação de que, meses após a vitória, o prefeito contradiz o discurso do governador, que afirma que disputará a reeleição, ao demonstrar interesse no Palácio dos Bandeirantes. A atitude deixa implícito que Nunes acredita que Tarcísio tentará a Presidência e que Bolsonaro não disputará a eleição.

O Estadão confirmou que Tarcísio tem reclamado da atitude de Nunes com duas fontes do primeiro escalão do governo, além de um líder partidário. No Palácio dos Bandeirantes, o descontentamento com o prefeito é compartilhado por outros membros do governo, para quem Nunes “subiu no salto” e não está colaborando com o plano de Tarcísio de disputar a reeleição. A articulação de Nunes ainda enfrenta resistência entre deputados estaduais do PL, que defendem o presidente da Assembleia Legislativa paulista, André do Prado (PL), como o melhor nome para suceder Tarcísio no Executivo Estadual.

Procurado, o governador Tarcísio de Freitas não comentou. Ricardo Nunes disse que pessoas desinformadas ou maldosas querem plantar uma discórdia inexistente. Interlocutores do prefeito afirmam que a relação dele com o governador vai além da política e passa pela amizade, parceria e respeito e que ele torce para que Bolsonaro seja candidato e Tarcísio seja reeleito em São Paulo.

Também não passou despercebido entre os aliados de Tarcísio que, apesar da parceria fundamental na eleição, Nunes sequer ligou para o governador para tratar das mudanças em seu secretariado. Logo no início do ano, uma série de ex-prefeitos de outras cidades da Grande São Paulo foram nomeados na Prefeitura, em um movimento que foi visto como o primeiro indício da ambição do emedebista por voos mais altos. Neste mês, reforçando as especulações, a Prefeitura de São Paulo passou a integrar o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que reúne alguns dos maiores colégios eleitorais do Estado.

Na última segunda-feira, 24, Nunes deu declarações contraditórias sobre uma possível candidatura. Durante um almoço com empresários promovido pelo Grupo Lide, ligado ao ex-governador João Doria (sem partido), afirmou que cumprirá os quatro anos de mandato. Porém, minutos depois, em coletiva à imprensa, recuou da própria declaração, dizendo que eleição não é “casamento” e que “as coisas acabam mudando”.

“Eu sou católico praticante. Não é casamento”, respondeu Nunes ao ser questionado se promete não renunciar para disputar o governo estadual. “A minha intenção é de ficar os quatro anos como prefeito. As coisas acabam mudando…”, acrescentou ele, sem garantir a permanência no cargo. Ao lado de Doria, o prefeito afirmou ainda que só tomará “qualquer tipo de atitude” se ela beneficiar a cidade e fortalecer o projeto para derrotar a esquerda nos âmbitos municipal, estadual e nacional.

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Outros dois postulantes a substituírem Tarcísio na eleição estadual, o secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), e o deputado André do Prado vinham negando a possibilidade, mas passaram a admiti-la publicamente na semana passada.

A leitura no Bandeirantes é que os contextos são diferentes: ambos teriam reagido às especulações em torno dos próprios nomes, enquanto Nunes adotou uma postura mais proativa. Bolsonaristas, inclusive, passaram a circular a informação de que o prefeito teria se reunido com caciques partidários para debater sua candidatura, o que, no entanto, a reportagem não confirmou.

Aliados de Nunes relatam que ele se empolgou com a possibilidade de disputar o governo após pesquisas de intenção de voto mostrarem seu bom desempenho em cenários sem Tarcísio, cotado para a Presidência. No mês passado, uma das simulações do instituto Real Time Big Data mostrou o emedebista na liderança, com 37% da preferência do eleitorado, seguido pelo vice-presidente e ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), com 18%. Animado, o prefeito chegou a encaminhar mensagens a aliados pelo WhatsApp comemorando os números.

Apesar do incômodo com as atitudes de Nunes, aliados de Tarcísio enxergam sua candidatura ao Planalto como uma possibilidade cada vez mais real. Eles apontam o aumento das agendas conjuntas entre o governador e o ex-presidente Jair Bolsonaro como indícios de que Tarcísio pode ser o nome escolhido para suceder o ex-mandatário nas urnas. Os dois estiveram lado a lado em suas agendas recentes: na manifestação bolsonarista em Copacabana, no Rio de Janeiro, e no podcast Inteligência Ltda.

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