Tucanos voltam ao coração do poder com eleição de Maia

Rodrigo Maia e Aécio Neves. Foto Orlando Brito
Vai bem além da expectativa de aprovação da pauta de reformas econômicas do governo o impacto político da eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) na Câmara. A ascensão de Maia, e das forças que ele representa, tem um significado mais profundo: traz os tucanos de volta ao centro do poder depois de 14 anos.

É bom prestar atenção no primeiro gesto de Maia, hoje pela manhã, que foi visitar o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, um dos principais apoiadores de sua candidatura. O acordo entre eles reedita a aliança que sustentou o governo Fernando Henrique Cardoso, unindo o PSDB e o então PFL, hoje DEM. Os tucanos sempre foram o parceiro mais forte nesse arranjo, e pode parecer estranho que voltem ao poder pelas mãos de um deputado do hoje minguado DEM. Mas são antigos aliados, farinha do mesmo saco. O acordo entre Aécio e Maia prevê o mandato tampão na Câmara agora para o DEM, e em troca o apoio desse grupo a um tucano para presidir a Câmara no biênio 2017/18.

Sai de cena, atingida de morte, a maioria formada por Eduardo Cunha à sua imagem e semelhança, o Centrão. O comando da Casa volta ao grupo tradicional de políticos que a controlou durante muitos anos, alternando tucanos e pefelistas. Nas circunstâncias, um movimento inegavelmente positivo. Não estarão livres de denúncias e envolvimento em malfeitos, mas certamente representam um upgrade moral em relação ao grupo que aí estava.

É bem verdade que o PSDB, de certa forma, já chegara ao poder, pois está na aliança que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff, levou Temer ao Planalto e deve confirma-lo. Participa do governo, com ministros como José Serra e Bruno Araújo, e dezenas de ocupantes de cargos em estatais e no segundo escalão – até porque, sabe-se, os tucanos têm quadros mais bem preparados do que o PMDB de Temer.

Ainda assim, os que foram para o governo estão subordinados ao presidente peemedebista, por mais que todo mundo saiba que as afinidades ideológicas de Temer com o tucanato sejam muito maiores do que as que jamais teve com o PT. Agora, porém, ao confrontar o Centrão de Eduardo Cunha, que dava as cartas na Câmara, e viabilizar a eleição de Maia, pode-se dizer que os tucanos voltam de fato ao coração do poder – ganhando fôlego para a disputa de 2018, com ou sem aliança com o PMDB de Temer.

Trata-se de uma mudança e tanto no cenário político.

Jornalista, formada na Universidade de Brasília em 1982. De lá para cá, trabalhou como repórter, colunista, comentarista, coordenadora, chefe de redação ou diretora de sucursal em diversos veículos, como O Globo, Estado de S.Paulo, SBT e TV Brasil (EBC). Foi ministra chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República de janeiro de 2011 a janeiro de 2014.

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