Por que Ciro não decola?

Por GUSTAVO CASTAÑON*


É uma pergunta recorrente entre meus amigos. 

Eleitores desencantados de Lula ou de centro se perguntam como um candidato inteligente, com uma visão profunda de país, história limpa, realizações, pode patinar em torno de 5% nas pesquisas há um ano. 

Mas ora, convenhamos, a resposta é bastante óbvia, embora complexa. 

Em primeiro lugar Ciro não decola simplesmente porque não tem um meio para se comunicar com os eleitores. Ele está fora da Globo por exemplo desde o primeiro turno de 2002. Os grandes jornais brasileiros só o noticiam quando ele responde alguma pergunta sobre Lula, sempre com o objetivo de intrigá-lo com o eleitorado petista. A maior parte da blogosfera ligada ao PT, de alcance muito menor, só o citava na época de sua luta contra o golpe, hoje, geralmente só o noticia para intrigá-lo ou até atacá-lo violentamente. Sobra a Ciro no momento como canal para sua mensagem o olho no olho no mundo universitário e setores sindicais, assim como o espontaneísmo de simpatizantes nas redes sociais. 

Em segundo lugar, se soma a isso a falta de recall. Ciro não disputa uma eleição nacional desde 2002 e uma eleição qualquer desde 2006, ao contrário de seus concorrentes diretos Lula, Marina, Alckmin e Bolsonaro. Seu eleitorado hoje se concentra no conhecimento do eleitor cearense e na classe média de esquerda, que busca ativamente notícias. 

E então temos o terceiro motivo: há hoje na rede máquinas artificiais imensas que vêem acertadamente em Ciro o discurso mais ameaçador para os interesses internacionais e rentistas no país. A "guerra híbrida" lançada contra o Brasil em 2013 já voltou suas baterias contra aquele que defende mais claramente os interesses nacionais. Blogs de fake news construídos para públicos específicos criam e espalham notícias falsas sobre ele, principalmente via Whatsapp. Grupos fascistas ou antinacionais como a rede de Bolsonaro, o MBL, a rede de Doria, sites de difusão de ideias liberais já identificaram em Ciro o grande opositor ideológico do processo de desmonte nacional e o agridem pessoalmente de forma constante e implacável. Ciro por sua vez continua, sem dinheiro ou estrutura, cruzando o país ao lado unicamente de seu assessor pessoal, como um Quixote brasileiro. A sua defesa é realizada unicamente por leitores espontâneos de notícias e artigos, convenientemente lançados pelos logaritmos dos grandes jornais para longe dos comentários visíveis. 

Por fim, o quarto e principal motivo: a perseguição implacável da imprensa e de setores do judiciário a Lula. Somada essa à memória de seu bom governo e ao desastre resultado do golpe de 2016, Lula se tornou um candidato imbatível, que cresce diminuindo o espaço de todos os concorrentes. Isso atinge principalmente Ciro, que tem base eleitoral em regiões e perfis políticos semelhantes.

Apesar disso tudo se bate e se tenta ridicularizar Ciro. Por quê? 

Porque ele é a aposta mais provável hoje de presença no segundo turno de 2018, havendo eleição. 

Sim, porque Lula será impedido de disputar pelo Judiciário, e nesse cenário Ciro está em terceiro lugar em todas as pesquisas. Comparemos suas dificuldades com as facilidades de Doria. Prefeito da maior capital do país, coberto diariamente por uma mídia favorável, montou para sua aventura presidencial imensa máquina virtual, contratando cinco programas de big data e pesquisas qualitativas orientando a construção de sua imagem e discurso. Apesar disso, a candidatura de Doria a presidência hoje está morta eleitoralmente. Já Marina se provou em duas eleições uma candidata fraca e sem substância, e apoiou não só Aécio no segundo turno de 2014 como também o golpe que hoje destrói a vida do brasileiro. Conta com uma rejeição idêntica a de Ciro. Bolsonaro é um candidato radical e com imensas fragilidades pessoais e ideológicas que serão massacradas na campanha, e já parece ter alcançado seu ponto de resistência. Alckmin está afetado pelo desgaste de várias denúncias de corrupção dentro e fora da lava-jato, e carrega o peso de ser o candidato do golpe e do PSDB. 

O eleitor revela novamente neste Datafolha que procura um perfil de candidato que nunca tenha se envolvido com corrupção (87%), tenha experiência administrativa (79%), passado político conhecido (65%) e de preferência experiência na iniciativa privada (59%). Ciro é o único que cumpre esses requisitos. 

Os impedimentos ao crescimento de Ciro, uma vez que Lula não se candidate, seriam facilmente removíveis com uma aliança partidária entre PDT, PSB , PCdoB e PPL e o investimento em uma estrutura profissional de comunicação na rede (o único canal disponível a ele). 

Chegando ao inicio dos debates e do horário gratuito eleitoral em terceiro lugar, todos sabem que Ciro se torna a aposta mais provável num segundo turno, onde tudo pode acontecer. 

Se essas condições, no entanto, não se materializarem, não tampouco sua candidatura deveria ser objeto de ataques e ironias por parte de quem se considera progressista ou patriota. O que importa a nós que apoiamos sua candidatura em qualquer cenário é que Ciro está falando aquilo que deveria ter sido falado há anos nesse país, denunciando mais de duas décadas de rentismo e o desmonte do Estado brasileiro. Ele está discutindo um projeto nacional que o país precisa desesperadamente e é o candidato mais preparado para assumir a presidência nesse momento crítico da história brasileira. 

Sua candidatura é a mais vital ao debate político no Brasil hoje.

*Gustavo Castañon é professor do departamento de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora

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