Arquivamento da denúncia contra Temer é o enterro do princípio da representação política


Por Rede Sustentabilidade

É preciso ficar claro o que aconteceu nesta quarta-feira no plenário da Câmara dos Deputados. O que estava em votação era apenas a autorização da Câmara para que o Supremo Tribunal (STF) avaliasse a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República e, aí sim, julgasse o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva. Não se tratava de votar o mérito das acusações contra Temer, mas, sim, apenas concordar com uma premissa básica da democracia: que uma investigação, seja a respeito de quem for, deva ir em frente, até as últimas consequências.

O enterro da denúncia contra Temer foi também o enterro do princípio da representação política, ou seja, de que os eleitos devem refletir, acatar e viabilizar a vontade da população. Se não bastassem todos os sinais emitidos de inúmeras formas pela sociedade, os deputados tinham uma aferição matemática dessa vontade: 81% querem que as investigações prossigam e que o STF julgue Temer. E mesmo assim, a maioria arregimentada por Temer e seus acólitos das mais diversas formas – a maior parte delas eticamente execrável – decidiu que os acertos e vantagens espúrios valem mais do que a vontade dos representados.

Com isso, o sistema político-partidário chega ao grau máximo de putrefação e, de fato, já cheira mal. A manada inconsequente, de argumentos pífios, de manobras truculentas, de cinismo impressionante fez, em benefício próprio, uso do poder que não é originariamente dos parlamentares. Pertence aos cidadãos eleitores. O que parte da Câmara fez foi criar um bunker para defender seus interesses mesquinhos, abusivos, destrutivos para o país e para a construção de bases democráticas consistentes e sustentáveis para o nosso desenvolvimento.

Nesse contexto, vale lembrar que a REDE vem defendendo desde o final de 2015 que apenas uma nova eleição poderia devolver ao povo brasileiro a decisão sobre o seu destino e que uma solução paliativa só traria mais danos ao país. Como bem sabíamos, Temer, eleito pela mesma chapa que a ex-presidente Dilma Roussef, trazia consigo os mesmos vícios contra as boas práticas políticas identificados nos governos anteriores, o que fica claro na delação feita pela JBF, que escancara as relações corruptas do presidente, e nas robustas provas levantadas pela Polícia Federal.

Não bastasse isso, Temer mostrou, medida após medida, seu apego ao poder e transformou o Palácio do Planalto em uma trincheira, de onde tem defendido sua permanência no poder com unhas, dentes e muito uso do dinheiro público para aliciar votos, por meio da liberação de emendas e distribuição de cargos que, em detrimento do país, garantiu o resultado desta votação no dia de hoje.

É com indignação e tristeza que recebemos o resultado de hoje na Câmara. Mas mantemos aqui o ânimo e o compromisso da luta para que a democracia e as instituições brasileiras sejam defendidas. Um dia, pelo esforço de todos nós, sairemos desse pântano para bases efetivamente sólidas, fundadas a partir da legitimação pela sociedade brasileira de um programa comprometido com o interesse nacional, feito às claras, guiado pelo princípio da justiça e do acesso igualitário dos cidadãos aos poderes do Estado e aos processos de criação e implementação de políticas de desenvolvimento sólido, sustentável, digno.

Comissão Executiva Nacional – REDE Sustentabilidade

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