Carne fraca. Polícia fraca. Governo fraco



Até sexta-feria passada eu costumava comprar carne numa lojinha da Swift que abriu aqui perto de casa. Vivia lotada. Além da variedade de produtos, tinha preços atraentes. Mais barato que nos supermercados ou açougues. No dia seguinte ao escândalo, o movimento da lojinha caiu. Eu fiquei na dúvida. Compro ou não compro? Será que o preço baixo tinha alguma relação com a falta de qualidade ou não? Se até agora nem eu nem ninguém da minha família passamos mal por causa das carnes que comprei lá isso quer dizer que não tem problema? Ou será que pode dar algum problema a longo prazo, ainda imperceptível?

Pensando isso e aquilo eu diminuí o consumo de carne essa semana e duvido que não tenha acontecido isso com muitos brasileiros. Principalmente porque não temos informações confiáveis.

Não sabemos até que ponto a Polícia Federal exagerou na divulgação de detalhes como papelão na salsicha e maquiagem de carne vencida. Temos que arriscar. Ou paramos de comer carne e nos juntamos aos vegetarianos e veganos ou continuamos nessa roleta russa sem revólver nem bala mas com uma ampulheta sinistra a determinar em que momento algum elemento daquela carne nos levará à sepultura.

Não podemos contar nem com a Polícia Federal, nem com os frigoríficos nem com o governo para nos orientar. Uma semana depois de tudo, a situação está mais confusa do que nunca. Somente hoje o governo mandou apreender toda a produção de três frigoríficos investigados pela Polícia Federal. Mas não falou nada sobre os outros 18.

É chocante a diferença com outros países. Os compradores do Brasil, a fim de proteger a população, suspenderam prontamente as importações e recolheram os produtos expostos, mostrando que a preocupação principal é com a saúde e não com o possível prejuízo financeiro.

Aqui foi o contrário. O ministro da Agricultura Blairo Maggi liberou a carne para o mercado nacional, mas proibiu as exportações. Ficou a dúvida: se a carne é boa, por que não serve para outros países? Se a carne ruim, por que serve para nós?

Até agora ficaram claros dois aspectos do escândalo: 1) há frigoríficos brasileiros com problemas sanitários e 2) fiscais corruptos do ministério da Agricultura não inspecionavam os produtos.

A Polícia Federal deveria fornecer informações sobre as as relações espúrias entre fiscais, políticos e frigoríficos, esse é o seu metier, mas a notícia do primeiro dia, de que havia uma gravação comprometedora do atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, que saúda o chefe dos fiscais corruptos como “grande chefe”, sumiu dos jornais.

A reação de Temer foi tão lenta, tímida, incompetente e inócua como tem sido a marca do governo. Ele reuniu a imprensa para dizer que “apenas 21 frigoríficos estavam com problemas”, como se fosse pouco, sendo que todos exportavam e logo em seguida levou embaixadores a uma churrascaria que trabalha com carnes da Austrália e do Uruguai. Em seguida, recolheu-se ao castelo do Drácula, crente que tinha resolvido o problema. 

Não dá para saber quem é mais fraco nessa história: a carne, a Polícia Federal ou o governo.

*Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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