Afinal, santo de casa faz ou não faz milagre?

Afinal, santo de casa faz ou não faz milagre?

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Por que tantas vezes não conseguimos ouvir aqueles que estão mais próximos de nós? Por que às vezes precisamos que alguém de fora apresente as respostas que todos que estão mais próximos já conhecem? Por que em algumas situações aqueles que estão mais próximos ao assunto conseguem apresentar as respostas e efetivamente serem ouvidos, sem a necessidade de se recorrer a alguém de fora?

Neste post apresento algumas perspectivas relacionadas com esse provérbio, que é dos mais repetidos tanto no ambiente corporativo quanto fora dele.

Se eu ganhasse direitos autorais a cada vez que a frase “santo de casa não faz milagre” fosse falada, eu provavelmente poderia viver disso... o que não necessariamente quer dizer que ela esteja correta e seja aplicável a 100% das situações.

Nem sempre...

Na qualidade de pai e amigo, já fui chamado por outros pais (pessoas bastante esclarecidas, razoáveis e bem sucedidas pessoal e profissionalmente) para aconselhar seus filhos em temas que variam desde como entender melhor os processos seletivos de empresas disputadas até explicar a lógica por trás de determinadas estratégias de investimentos.

E por que esses pais e amigos meus me pediram para fazer isso no lugar deles? Eles não deveriam conhecer seus próprios filhos melhor do que ninguém e saber exatamente a forma mais adequada de aconselhá-los?

Nesses casos, justamente por conhecerem tão bem seus próprios filhos foi que eles pediram a um terceiro menos próximo para conversar de forma racional e isenta sobre essas questões que, por algum motivo, se tornaram emocionalmente tão carregadas para serem tratadas em família. A psicologia explica...

Vejamos abaixo os 7 motivos pelos quais temos uma grande dificuldade em ouvir aqueles que estão mais próximos de nós:

1. Proximidade reduz a credibilidade: por geralmente estarmos muito acostumados com as pessoas que fazem parte do nosso círculo mais próximo, temos uma tendência natural de dar menos crédito às palavras dessas pessoas e ignorar a real importância das suas preocupações e conselhos.

2. Quanto mais concisa a mensagem, maior o seu impacto: quando ouvimos todos os dias as mesmas mensagens das pessoas que fazem parte do nosso cotidiano, essas palavras (ainda que importantes) muitas vezes se perdem. Nunca me esqueço de uma das frases favoritas de minha avó: “a repetição das palavras enfraquece-as”... a dificuldade que tenho em aplicar essa pérola de sabedoria em minha vida é uma marcante ilustração desse princípio.

3. Excesso de interpretação: quando conversamos com estranhos ou assistimos uma palestra, estamos menos propensos a identificar intenções e significados ocultos. O oposto acontece quando alguém próximo a nós fala. Quem nunca se pegou tentando estabelecer conexões entre o que estava ouvindo de um familiar, chefe ou colega de trabalho próximo e acontecimentos recentes envolvendo as mesmas pessoas?

4. Faça como eu digo, não como eu faço: quando nosso médico nos diz para pararmos de beber, tendemos a ouvir e considerar o que ele diz – ainda que saibamos que ele perdeu sua habilitação ao dirigir alcoolizado algumas semanas antes. De forma semelhante ao item anterior, quando alguém próximo a nós nos diz para não fazermos algo que sabemos que aquela pessoa faz, muitos de nós simplesmente classificamos aquele discurso como hipócrita e o desconsideramos.

5. Mas é tão complicado!: quando falamos com estranhos sobre problemas, muitos de nós vamos direto ao que importa. Por outro lado, quando falamos sobre problemas com pessoas próximas a nós, tendemos a perder o foco, fugir do tema ou entrar em detalhes menos relevantes. Por isso, pode ser mais difícil de ouvir ou dar bons conselhos nessas situações menos objetivas.

6. Queremos estar certos: quantas vezes não buscamos nos aconselhar com amigos ou conhecidos cujas opiniões a respeito daquele assunto nós já conhecíamos? Às vezes, queremos ouvir a nossa opinião falada por outra pessoa. As pessoas mais próximas a nós (e que nos conhecem de forma mais aprofundada) tendem a nos dizer aquilo que é melhor para nós. Muitas vezes não é aquilo o que queremos ouvir.

7. Não estamos prontos para ouvir: há ocasiões em que pessoas próximas a nós podem estar compartilhando informações importantes e novas perspectivas que podem efetivamente nos ajudar a resolver determinado problema, porém fazem isso no momento errado. Enquanto estamos no processo de esfriar nossa cabeça e elaborar a respeito do ocorrido, o momento é pouco favorável para ouvirmos conselhos ou qualquer outra contribuição, especialmente dessas pessoas.

Como colaborador e gestor também já perdi as contas de quantas vezes eu vivi pessoalmente essa situação no trabalho. Certamente foram suficientes para alguém como eu (que aprende por repetição) se desapegar e deixar de sofrer com isso.

Quantas vezes vemos consultores ou advogados externos sendo chamados para ajudar a resolver problemas de empresas cujos próprios colaboradores e gestores já sabem exatamente o que precisam fazer e como?

No caso das empesas, os motivos pelos quais os santos de casa não fazem milagres são ligeiramente diferentes (mas não totalmente desconectados) das situações pessoais:

1. Isenção e objetividade: pessoas de fora podem avaliar de forma mais isenta e objetiva uma situação e, com isso, confirmar ou refutar as suposições. Por mais que isso pareça um gasto desnecessário de tempo e dinheiro, às vezes há muito em jogo para se correr o risco de deixar de considerar algum fator que não tenha sido percebido por aqueles mais próximos ao problema.

2. Independência: ainda que a solução para determinado problema seja conhecida por todos dentro e fora da empresa, pessoas de fora têm menos restrições para dizer as coisas que precisam ser ditas. Os gestores internos nem sempre podem (ou querem) fazer isso.

3. Conhecimento específico: pessoas de fora podem trazer um conhecimento específico cujo desenvolvimento dentro de casa seria muito caro e/ou demorado para resolver um problema pontual da empresa.

4. Falta de tempo: há muitas ocasiões em que um problema precisa ser resolvido, mas a equipe interna simplesmente não tem tempo para fazê-lo. Embora a equipe conheça a solução e tenha condições de implantá-la, há determinados momentos em que ela está focada na condução de outros assuntos que não podem ser interrompidos enquanto se soluciona o problema em questão.

5. Postura defensiva: um último, porém não menos relevante motivo para envolver pessoas de fora é a postura defensiva muitas vezes adotada por executivos, que mesmo sabendo qual a “resposta certa” contratam empresas de renome para colocarem aquela mesma resposta em uma apresentação com slides timbrados, sabendo que aquela opinião tenderá a ser mas respeitada ou vista como isenta se for dita por alguém qualificado e de fora da empresa... Se, no final das contas, ficar comprovado que aquela resposta na verdade estava errada, o executivo terá uma excelente defesa.

Em resumo, nas empresas e nas famílias são muitas as situações em que temos dificuldade em efetivamente ouvir aqueles que são mais próximos a nós. Entender melhor por que isso acontece nos torna mais alertas para evitar essas situações. Saber quando buscar ajuda externa nos torna mais hábeis para resolver aqueles casos em que uma visão e uma voz de fora realmente agregam para a solução do problema.

Mas, às vezes...

Em algumas situações específicas, já vi colaboradores apresentarem e ajudarem a implantar as soluções mais inovadoras. Já vi o mesmo acontecer dentro de uma família. É verdade que, na minha experiência, esses casos ainda estão longe de serem a maioria e, portanto, são para mim a exceção que confirma a regra.

Nos casos de empresas, eram sempre companhias iniciantes ou com dificuldades de caixa. Por escolha ou por absoluta necessidade, em ambos os casos busca-se maximizar a eficiência de cada contratação para que os próprios colaboradores sejam capazes de fazer o trabalho cotidiano e, adicionalmente, apresentar e implantar soluções para os problemas que surgirem sem recorrer a prestadores de serviços externos.

Nos casos familiares, o traço comum que pude identificar foi a maturidade de todos os envolvidos, sejam eles os “santos de casa”, sejam eles os beneficiários dos “milagres”. Afinal, não é nada fácil ultrapassar todos os 7 fatores que dificultam essa comunicação.

Em resumo: santos de casa fazem milagres desde que se acredite nos santos e em milagres. Estatisticamente, não podemos dizer que isso seja frequente em nosso convívio familiar ou profissional.

Referência:

Imagem: Exposição: Santo de Casa Faz Milagre! - Senac

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