De saída da cadeia, Youssef estimulava presos da Lava Jato a fazer delação

Alan Marques /Folhapress 

O doleiro Alberto Youssef na CPI dos Fundos de Pensão

BELA MEGALE, DE BRASÍLIA
WÁLTER NUNES, DE SÃO PAULO
Da Folha de São Paulo

Nesta quinta (17), depois de dois anos e quatro meses preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, o doleiro Alberto Youssef irá para casa. Detido na primeira fase da Lava Jato, em 2014, ele foi o terceiro réu a firmar acordo de delação premiada.

Youssef era um dos principais operadores do esquema e o responsável por lavar o dinheiro que saía ilicitamente dos cofres da Petrobras. Era também responsável pelo repasse de propina aos envolvidos nos desvios.

A revelação do esquema de corrupção e de nomes omitidos por outros delatores, como o do ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso, renderam ao doleiro um dos acordos mais vantajosos da operação, na avaliação de advogados e procuradores.

Após três anos de prisão, Youssef progrediria para o regime aberto. Em 2015, a pena, reduzida para dois anos e oito meses devido à "efetividade", teve bônus. Ele ganhou permissão para cumprir os últimos quatro meses em prisão domiciliar, usando tornozeleira eletrônica.

Editoria de Arte/Folhapress 


Mas a eficiência de Youssef foi além dos fatos narrados em mais de cem reuniões. Apesar de ter rompido o acordo que fez na operação Banestado, o doleiro foi o maior incentivador da delação premiada na Lava Jato.

Quando o ex-vereador Alexandre Romano, o Chambinho, foi preso, em 2015, passou noites chorando. Youssef se aproximou e disse que conhecia bem o juiz Sergio Moro e os procuradores. Aconselhou: quanto antes falasse, melhor. Chambinho contratou Figueiredo Basto, advogado do doleiro, e dois meses depois cumpria prisão domiciliar.

Expediente similar foi usado por Youssef para se unir a Pedro Corrêa. O ex-deputado sofre de diabetes e o doleiro passou a ajudá-lo com as refeições e os medicamentos. Convenceu-o a delatar e também indicou Basto. Hoje, Corrêa espera a homologação do acordo.

Em junho de 2015, Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, conversou com Youssef e decidiu falar, mas sua delação foi rejeitada. Transferido para o Complexo Médico Penal, ele arrumou confusão com outros presos.

Pouco depois, foi transferido para a PF e novamente dividiu cela com Youssef. Na primeira noite, o doleiro cedeu-lhe a cama e o ensinou a lidar com os agentes. O ex-executivo passou a contar com orientações informais dos advogados de Youssef, que, mesmo não assumindo a causa, acessaram os documentos do caso.

A solução veio por outra via. O filho do ex-diretor, Bernardo, gravou uma conversa sua com o então senador Delcídio do Amaral em que o político propunha um plano de fuga para Cerveró. Ele entregou as gravações aos procuradores e assim garantiu o acordo do pai.

CONSELHEIRO

Um ex-colega de cela relatou que Youssef, por ser o mais antigo, tem papel de conselheiro para outros presos. Consultado, sempre diz que a saída é colaborar. Agentes da PF relataram à Folha que quando havia interesse de alguém colaborar, a pessoa era colocada na mesma cela do doleiro. Oficialmente, a PF nega o fato.

Outro caso mostra que os conhecimentos de Youssef iam além. Numa acareação com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa na CPI da estatal, em 2015, ele falou que um novo colaborador esclareceria a divergência entre as versões dele e de Costa sobre Antonio Palocci, hoje preso.

Costa dizia ter recebido um pedido, via Youssef, em nome de Palocci para doar R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010.

O doleiro negou ser o autor do pedido.

Duas semanas depois, o lobista Fernando Baiano, ligado ao PMDB, afirmou que havia se reunido com Palocci e Costa e que no encontro o ex-ministro pediu ajuda financeira ao ex-diretor da Petrobras, isentando assim Youssef. Antes da revelação, o doleiro e Baiano conviveram na mesma ala na carceragem da PF.

Procuradores afirmam que nunca deram a Youssef a missão de defender a delação, mas acreditam que ele tirou vantagem disso, já que a sua colaboração se tornava mais efetiva à medida que outras a corroboravam.

Para Tracy Reinaldet, advogado de Youssef, seu cliente não foi incentivador da colaboração. "Ele gosta de resolver problemas. Teve quem resolvesse a vida sem fazer colaboração na Lava Jato?".

A atitude, porém, não agrada a todos. O ex-ministro José Dirceu relatou incômodo com a aproximação de Youssef, que entre uma gentileza e outra, especulava sobre a possibilidade de delação. O petista viu tentativa de manipulá-lo.

Dirceu está na cadeia desde agosto de 2015, condenado a mais de 20 anos. Já Youssef está de mudança para um apartamento num bairro nobre de São Paulo.

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