EU NÃO SEI FALAR INGLÊS

Dr. Paulo Lima* 
            É isso mesmo. Eu não sei falar inglês e, para ser bem franco,  nunca tive nenhum problema em admitir isto. Para alguns pessoas talvez isso soe como uma blasfêmia mas, confesse cândida e sinceramente que tal fato nunca foi problema para mim. O grande problema, este sim, é que nunca consegui falar a minha língua pátria como gostaria, correta e fluentemente, muito embora, ao  longo de minha vida sempre tenha me esforçado em alcançar tal intento. Hoje, já bem perto da velhice vejo que nem isto tem tanta importância assim. É engraçado como a vida nos traz ensinamentos!

            Lembro que ao iniciar o ginasial, lá pelos idos de 1970, em minha cidade, Vertentes, o que mais aterrorizava a gente era se deparar com essa língua estrangeira, já que só tinha oportunidade de ouvi-la  vez ou outra, num final de semana, quando ia com meu pai ao cinema. Sinceramente, não sei como consegui concluir o curso ginasial (hoje, salvo engano, o ensino fundamental) mas o fato é que nunca precisei desse idioma, que alguns ainda acham de fundamental importância para conseguir alcançar o sucesso na vida e hoje, com sucesso ou sem ele (refiro-me ao sucesso) dele não preciso mais.

            Sinceramente, quando jovem - e creio que a maioria dos jovens ainda tem esse sonho - sonhava em conhecer os States (eita, acabei de falar inglês) e, claro, para isso nos diziam que era preciso que a pessoa falasse fluentemente o inglês, pois, caso contrário talvez nem conseguisse adentrar naquela maravilha de País. É que, não sabendo se expressar na língua dos ianques o viajante incauto correria o sério risco de ser confundido com um latino, ou pior, com um árabe muçulmano! Aí seria fatal: não poderia ultrapassar às portas do aeroporto de Miami, sendo colocado  no avião, retornando imediatamente ao lugar  onde iniciou a inexitosa viagem. Já pensaram que desgraça na vida de uma pessoa?

            Quando criança, apareceu em minha cidade um americano, por nome David. Não sei bem o que ele foi fazer lá. Vivíamos por volta de 1962/63, quando os Estados Unidos estavam fomentando o golpe militar em nosso País e a maioria das cidades eram visitadas por essas pessoas, que faziam parte da chamada "Aliança para o Progresso", um movimento de natureza político-ideológico, cujo objetivo era integrar os países da América nos aspectos político, econômico, social e cultural frente à "ameaça soviética", vista como a possibilidade de implantação de um regime comunista no nosso continente. E Cuba estava ali, bem às portas de Miami... Soube, tempos depois, que o tal americano havia morrido na guerra do Vietnam.

            Os anos foram passando, as guerras foram se sucedendo, Afeganistão, Iraque, Irã, Líbia, Síria e, cada vez mais, tive essa certeza, de que nunca precisaria pisar em solo americano, principalmente depois de tantas guerras, fomentadas por aquele País.
           
            Hoje guardo comigo a certeza e até uma certa tranquilidade de que nunca conhecerei aquele País e de repente sinto até uma sensação alegre, um sentimento de paz, não sei bem...

            E se nunca irei cruzar as portas dos States, para que mesmo preciso falar inglês? Prefiro continuar com o meu mal-ajambrado português. E não é que rimou? A propósito, ano que vem, finalmente vou prá Cuba!
            
              Abraços a todos.


*PAULO ROBERTO DE LIMA  é  graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador  Federal, e atualmente exerce a advocacia. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em novo caso de nudez, corredora sai pelada em Porto Alegre

'Chocante é o apoio à tortura de quem furta chocolate', diz advogado que acompanha jovem chicoteado

Foragido que fez cirurgia e mudou de identidade é preso comprando casa na praia