COM O PIB NA CADEIA, O QUE ACONTECE NA ECONOMIA?



Já estão presos, em Curitiba, o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo (à esquerda), e o dono da Odebrecht, Marcelo Odebrecht (à direita); os dois comandam os grupos empresariais que estão à frente dos maiores projetos de infraestrutura do País, como Belo Monte, Angra 3 e as concessões dos aeroportos; antes que a Lava Jato os atingisse, eles enxergaram de camarote a ruína de concorrentes; a OAS, por exemplo, entrou em recuperação judicial e colocou à venda vários de seus ativos, como a concessão do aeroporto de Guarulhos; a Mendes Júnior colocou em ritmo lento as obras do Rodoanel; a UTC demitiu mais de um terço de seus funcionários; a Galvão também foi à bancarrota e a Camargo Corrêa foi alvo de pedidos bilionários de indenização; sem crédito, as construtoras brasileiras agonizam e demitem; se Odebrecht e Andrade também pararem, com elas parará o País; recessão deve se acentuar, com mais demissões, e o pacote de concessões poderá não ter investidores brasileiros

247 – Dois dos homens mais ricos e poderosos do Brasil, Marcelo Bahia Odebrecht e Otávio Marques Azevedo, dormirão hoje a primeira noite de suas vidas numa prisão. Marcelo, como presidente da Odebrecht, emprega mais de 100 mil pessoas. O mesmo acontece com Otávio, que preside o conselho da Andrade Gutierrez, grupo que, além da construtora, é também controlador da empresa de telefonia Oi.

Até recentemente, ambos frequentavam salões, palácios e eram interlocutores privilegiados da imprensa nacional. Como capitães de indústria, eram sempre convidados a falar sobre perspectivas de investimento e caminhos para a economia brasileira. Agora, estão fichados como criminosos e, caso seja mantida a lógica da Operação Lava Jato, receberão condenações em primeira instância que os manteriam presos para o resto de suas vidas.

Ao justificar as prisões, o juiz Sergio Moro, condutor da Lava Jato, argumentou que, nos últimos sete meses, ambos nada fizeram para conter a corrupção de suas empresas. Disse ainda que a prisão é um remédio amargo para conter o "ciclo delitivo", mais indolor do que a segunda alternativa, que seria a suspensão de todos os contratos das duas empresas. Portanto, prender causaria menos dano à economia do que banir as duas maiores construtoras brasileiras da cena empresarial.

Os efeitos no mundo real, no entanto, serão devastadores. Basta notar com o que aconteceu com as outras empreiteiras atingidas pela Lava Jato. O caso mais dramático é o da OAS, que entrou em recuperação judicial e colocou praticamente todos os seus ativos a venda, como a empresa Invepar e a concessão do Aeroporto de Guarulhos, recentemente ampliado.

A UTC Constran demitiu nada menos que um terço dos seus funcionários e também colocou à venda a concessão do Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Também em recuperação judicial, a Galvão Engenharia luta para sobreviver. Já a Queiroz Galvão chegou a paralisar as obras olímpicas no Rio de Janeiro. E a Mendes Júnior, sem crédito, colocou em marcha lenta as obras do Rodoanel em São Paulo.

Na prática, o setor de engenharia no Brasil entrou em colapso. As construtoras já demitiram mais de 100 mil pessoas e devem demitir ainda mais. Obras, como a transposição do São Francisco, avançam em ritmo lento. E outros projetos, que poderiam fazer o País deslanchar com o novo programa de concessões, terão dificuldades para encontrar investidores. Afinal, agora que Andrade e Odebrecht também caíram na roda da Lava Jato, não há uma única empresa brasileira de engenharia relevante que esteja em boa situação econômica.

Além do impacto no Brasil, as construtoras nacionais serão também duramente atingidas no mercado internacional. A Odebrecht, por exemplo, que é uma das maiores na África, na América Latina e no Caribe, agora tem seu dono na cadeia – fato que, certamente, será explorado por concorrentes. O mesmo ocorrerá com a Andrade, que também se internacionalizou nos últimos anos.

Depois dessa décima-quarta fase da Lava Jato, haverá ainda muita pressão para que todas as construtoras brasileiras, que ergueram obras que orgulharam a engenharia mundial, como Itaipu, por exemplo, sejam declaradas inidôneas. Assim, seriam impedidas de participar de novas licitações.

Guerra de extermínio

Caso prevaleça esse cenário, no entanto, o mercado brasileiro terá que ser totalmente aberto a construtoras internacionais – tese que já foi defendida pelo jornal O Globo. Assim, em vez de empresas brasileiras atuando nos canteiros de obras, haveria companhias como, por exemplo, a americana Halliburton, que financiou a campanha de invasão do Iraque.

O mais provável, no entanto, é que as empresas brasileiras possam continuar a atuar, ainda que extremamente combalidas. Já é consenso no mercado financeiro que, depois desta sexta-feira, a recessão prevista para 2015 irá se acentuar no Brasil. E enquanto as lideranças políticas promovem uma guerra de extermínio, sem demonstrar nenhuma capacidade de diálogo, o Brasil afunda.

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